O homem vê a mulher como se estivesse num frigorífico: um
pedaço de nádegas, olhos grandes, cabelos pretos, seios fartos. Ele
enxerga a mulher aos pedaços.
Acho que minha vida é isso... ‘uma colcha de retalhos’, que quanto mais se desgasta menos bela é. Eu
sou feita de tantos retalhos e minhas ilusões são os remendos que fazem
com que esses retalhos, pedacinhos de mim, permaneçam juntos. Mas os
remendos estão se tornando cada vez mais gastos, o tecido apodrece cada
vez mais depressa e a única coisa que consigo enxergar são os
pedacinhos que vão se perdendo no caminho. Hoje essa colcha já não
me protege como antes, nem do frio, nem do medo, já não basta esconder
a cabeça para que o sono venha, percebi que o mal que me assombra não é
o que está fora, no escuro, mas sim o que se apodera do interior, e eu
não tenho tido forças para reprimi-lo, é a inocência em confronto com a
realidade, da qual não tenho como fugir. E nesse ritmo vou perdendo,
retalhos, alguns pedacinhos, e remendando outros, mas mo fim não é mas
minha colcha, é apenas um pano velho costurado pela vida. (Ana Pollyanna)